9 de jan. de 2011

Existência Fingida

Chegam Invernos e eu permaneço. Chegam os dias e não desapareço. A minha mente flutua livremente por um caminho deserto e eu mudo, e aquilo que penso muda. Nós, pessoas conscientes, embora por vezes inconscientes, desfazemos e fazemos aquilo que nos é dado. Pensamos que sim mas não há momento em que o pensamento permaneça igual. E tristemente ficamos, escondidos nas brumas da memória que nos perseguem eternamente, sem descanso, sem fôlego e nos custa respirar, e parece que asfixiamos e rodamos e rodamos continuamente, incessantemente. Num mesmo registo que como música nos embala para mais além. Conhecemos e vivemos desespero, vontades e sentimentos difíceis.

Enfim, existimos vivos e mortos, vivos porque desejamos e mortos por que nos esquecemos, duras penas, duras forças que nos puxam, nos puxam para a existência e que nos atrasam o pensamento. Sociedades incontornáveis e emblemáticas que nos constroem e nos modificam e não nos deixam objectar, ficamos mudos e calados, e bandeiras e escudos, e livros e pós, e rugas e entranhas que nos desafiam, a nós, ao nosso mais profundo, e não temos lágrimas e ficamos sérios, sisudos, ingratos à vida e desmotivados. É apenas isto, esta história nojenta que se repete e que nos altera, chata, irritante, estúpida! Chamem o que quiserem!

Ali ficamos, pairamos e esféricos não protestamos e não reclamámos e morremos, o nosso espírito morre, a nossa mente cai o nosso corpo entra em decadência. Para provar o quê? A quem? Porquê? Sim, digam, falem de uma vez ó gentes obscuras ou fiquem mudas e sem fala, sem expressão. Façam-nos voltar ao tempo do cerrado e do fechado, fiquemos ignorantes e sujeitados a outros, sem vontade própria como bonecos, bonecos secos e sem vida, sem olhar, sem sentimentos, perdidos e perdidos.

E por fim, tudo isto acaba, tudo isto é pó, tudo isto é ferida e tudo isto são rasgões de nós, espelhos estilhaçados nos quais o nosso reflexo está partido e mais uma vez chegamos ao mesmo ponto, ao ponto do nada, ao ponto da inexistência.

E no entanto, existimos, não é verdade?

5 comentários:

silviafreitas. disse...

Muito bom texto David.
Tens toda a razão, há alturas em que existimos através da pretendida inexistência.
Continua a postar :D

Anônimo disse...

Obrigado Silvia.

Marta Senra disse...

Muitos, e os mais sinceros, parabéns. Este texto está MARAVILHOSO! Gostei muito!

Anônimo disse...

Obrigado mais uma vez!:D

Marta Senra disse...

De nada David!