9 de jan. de 2012

Uma Família Vegetariana

Hoje, quando estava a fazer umas pesquisas na internet encontrei uma entevista, feita por uma associação de vegetarianismo online (http://www.centrovegetariano.org), a uma família vegetariana. Como reconheci muitas das coisas aqui abordadas decidi partilhar convosco uma parte da entrevista. Acho que é muito interessante e é bom lerem para entender melhor o porquê do vegetarianismo e também para acabar com o preconceito que ronda este tema. Preconceito este que existe devido à ignorância em relação a este assunto.


Cristina Gomes, 30 anos, psicóloga e Pedro J. Pereira, 32 anos, formador eco social são pais do Pedro com 3 anos e da Inês com 6 meses.
O Centro Vegetariano pediu-lhes que partilhassem connosco as suas experiências como família

vegetariana.


Que tipo de alimentação seguem os pais e desde que idades?
Pjp: Deixei de ingerir qualquer tipo de carne há cerca de 17 anos e peixe há cerca de 11 anos. Durante algum tempo cheguei a praticar de forma plena o veganismo. Neste momento consumo ocasionalmente algum tipo de queijo mais artesanal e ovos biológicos.
Cris: No meu caso, primeiro deixei os ovos e os lacticínios por volta dos 24 anos. Pouco tempo depois deixei de comer carne. Com 25 anos, deixei igualmente de consumir peixe, tendo-me tornado nessa altura praticamente vegana. Foi na minha primeira gravidez que voltei a consumir ovos e queijo, tendo assumido desde essa altura uma alimentação vegetariana, que ainda mantenho atualmente.
(...)

Durante as gravidezes foram incluídos ou excluídos alguns hábitos alimentares, por exemplo, toma de suplementos? Se sim, quais foram as alterações feitas?
Cris: Na primeira gravidez tomei o mesmo que toma a maioria das grávidas, ácido fólico no primeiro trimestre e iniciei a toma do ferro a partir do segundo trimestre. No entanto como não me sentia muito bem com a suplementação e os níveis de ferro estavam ótimos, acabei por pouco tempo depois parar de tomar a medicação.
Na segunda gravidez tomei o ácido fólico no primeiro trimestre e depois não tomei mais nada. No entanto, como no final da gravidez me sentia mais cansada que o habitual e os níveis de ferro e vitamina B12 estavam um pouco mais baixos, aceitei a sugestão de suplementar ambos.
 (...)
Procuraram informações mais detalhadas sobre alimentação e suplementação da mãe e crianças quando decidiram ter filhos? Onde?
Cris: Sim, bastante. A principal fonte foi a Internet. Depois por parte dos profissionais que acompanharam de perto a minha gravidez e eles mesmos foram esclarecendo algumas duvidas e/ou dando algumas sugestões.
Pjp: Recolhi alguma informação mais junto de amigos vegetarianos que também são pais.
Os bebés foram/são amamentados? Se não, como foi/é feita a alimentação?
Cris: Sim, o nosso primeiro filho foi amamentado até aos 20 meses e a segunda filha está a ser igualmente amamentada.
Com que idade começou o Pedro a comer outros alimentos que não o leite materno e que tipo de comidas?
Cris: Tive de introduzir outros alimentos aos 5 meses para lhe dar tempo de se adaptar antes de eu ir trabalhar. Os alimentos que começou por ingerir foram frutas esmagadas (pera e banana crua, maçã cozida) e papas caseiras feitas com o meu leite, fruta e farinhas integrais.
Pjp: A farinha de arroz ou de aveia, só para citar dois exemplos, são excelentes. Normalmente as pessoas vegetarianas, quando praticam uma alimentação diversificada, acabam por conhecer muito mais opções e possibilidades do que as pessoas omnívoras. Infelizmente, a grande maioria das pessoas ainda acaba por optar pelas papas “industriais”. Sem grande noção ou conhecimento de todos os aspetos negativos que elas têm (presença de substâncias conservantes, por exemplo).
Vão educar os vossos filhos na ética e alimentação vegetarianas?
Pjp: Sim, certamente. Não é algo que queiramos impor, mas é um valor preponderante na nossa alimentação e especialmente filosofia de vida. Creio que nossa educação será sempre alicerçada no vegetarianismo como um valor ético, ecológico e espiritual fundamental, mas também pretendemos respeitar a liberdade de escolha dos nosso filhos. Se mais tarde eles optarem por comer carne, por muito que isso nos custetentarei respeitar essa opção. Mas fará parte do meu trabalho educativo fornecer-lhes toda a informação porque considero a exploração das outras espécies animais e em particular o consumo de carne tão nefasto para o equilíbrio ecológico do nosso planeta e para o desenvolvimento civilizacional da nossa sociedade. Para além da própria saúde claro.
Cris: Sim, pelo menos enquanto formos nós a escolher o que eles comem! E se depois decidirem seguir um regime alimentar diferente, tentaremos fazer com que pelo menos tenham consciência do que significa e está por trás de um bife no prato ou uma sardinha no fogareiro...
Utilizam produtos ecológicos e veganos para os bebés (fraldas, champôs, cremes, etc.)? Sentem alguma dificuldade em encontrá-los no mercado?
Cris: Tentamos que todos os produtos que consumimos sejam o mais naturais possíveis e tenham o menor impacto ecológico que conseguirmos. Não sentimos dificuldade em encontrá-los porque já sabemos onde os procurar, mas claro que não estão ainda presentes em qualquer supermercado como seria de desejar.
Pjp: Apoiamos projetos e produtos éticos, ecológicos e preferencialmente não comercializados por grandes grupos multinacionais. Creio que é fundamental sabermos viver mais com menos, e esse processo implica todo um esforço de reaprendizagem e reflexão. Mas à parte destas reflexões, sim, sem dúvida, quando compramos tentamos sempre fazê-lo da forma o mais ética, ecológica, económica e socialmente justa. Mesmo que por vezes isso possa implicar ter de pagar mais. Mas mesmo isso é relativo, se calhar por isso mesmo, e dentro das nossas contingências económicas, acabamos por comprar só aquilo que é mesmo essencial.
A nível social e familiar sentiram/sentem discriminações por não serem omnívoros?
Cris: Nem sempre é fácil para quem não é vegetariano aceitar que uns pais tentem educar os seus filhos de forma a serem vegetarianos desde que nascem... Na medida daquilo que é possível tentamos que compreendam as nossas opções, sem grandes expectativas claro, uma vez que às vezes não é mesmo possível fazer surgir essa compreensão. No entanto, basta olhar para o nosso filho e ver como cresce saudável, vigoroso e cheio de energia, para perceber que está ótimo! E isso tem sido de longe o maior argumento que poderia existir em favor do vegetarianismo.
Pjp: De certa forma acho que não, talvez só alguma pressão, mas nada de muito significativo. Creio que as pessoas que me conhecem sabem o quanto o vegetarianismo tem sido crucial no meu estilo de vida e por isso parece-me quase óbvio que seria impensável que fosse educar os nossos filhos de uma forma diferente. O melhor argumento que podemos utilizar é demonstrar a vitalidade e saúde dos nossos filhos. E de facto é importante percebermos quando as pessoas perguntam ou fazem algum comentário realmente com alguma abertura de espírito, ou intuito de perceber algo, ou então simplesmente para provarem o seu ponto de vista e dogmas pró-alimentação carnívora. E nessas situações creio que não vela a pena gastar energia.
Já decidiram como agir no futuro próximo quando as crianças interagirem com grupos de amigos e familiares? Vão permitir, por exemplo, que experimente comer produtos de origem animal na escola ou noutros eventos?
Cris: O nosso filho interage desde que nasceu com pessoas que seguem um regime alimentar diferente do nosso e já aconteceu por exemplo ele provar leite de vaca e automaticamente rejeitar por não gostar. Quanto à carne e ao peixe ele mesmo já diz que não come porque é vegetariano. Fizemos sempre questão de lhe dizer que habitualmente as pessoas comem carne e peixe.
Se acontecer de ele insistir em comer produtos de origem animal e eu estiver presente, tentarei que ele perceba o que está a querer comer e oferecer-lhe-ei uma alternativa dentro dos alimentos que comemos. Se ainda assim ele insistir em provar penso que o deixaria provar.
Pjp: Quando eles forem um pouco maiores, terei sempre a preocupação de lhes mostrar como a “carne é produzida” e como os animais são explorados e submetidos a tanto sofrimento para que aquele bife ou salsicha possa estar no prato. Pelo menos, se mesmo assim decidirem ou quiserem tanto comer carne, não será certamente com desconhecimento (ou encobrimento) de toda a sinistra realidade que está por detrás de um bife.

Qualquer curiosidade acerca do vegetarianismo é só perguntar. :)

2 comentários:

Anônimo disse...

Finalmente uma prova de que há "vida vegetariana" por aí ahahahahah. Mas por caso muito interessante esta entrevista jp ;)

Anônimo disse...

Há muitos vegetarianos! Não tantos como queria claro. -.-
Mas obrigado! :D

João Pedro