12 de mar. de 2011

Catherine

Lembro-me como se fosse ontem. Estávamos naquele lugar de canais e moinhos. Caíam as últimas folhas das árvores, esperando o primeiro monte de neve, e gaivotas sobrevoavam as águas calmas no silêncio da noite. Agora que me recordo disto vejo que aquela cidade tinha uma magia especial. Estava ela de mãos dadas comigo, enquanto eu a apreciava,  vendo-a a olhar para aquelas águas calmas, imagem a qual eu continuo a guardar nas minhas memórias. Eu sabia que aquele era o nosso último dia juntos, mas ela não, nunca lhe tinha contado que a minha estadia era temporária. Tinha sido um dia bem passado, poderia dizer perfeito se ao fim da noite eu não me te tivesse despedido dela com as palavras “Até um dia Amor...”, não sei porque não lhe disse mais nada, talvez por me ter falto a coragem. Na manhã seguinte, aquela noite, deixei um bilhete, do qual ainda me lembro exactamente o que dizia:
« Em busca de outra história
Ouve-se a própria voz no silêncio
Resiste-se à dor
Descobre-se o encanto
Ama-se a arquitectura das coisas
Enamora-se a tranquilidade com os olhos das mãos
Inventa-se, dá-se, faz-se
Esgota-se a possibilidade de amor
E cria-se outra dimensão do amar. »

Não sei porque me deu para escrever aquelas palavras. Ainda hoje me custa percebê-las. Nunca soube se a carta alguma vez foi entregue. Foi dificil superar o que sentia por ela, não sei se jamais irei viver algum amor com aquele que tive com ela, mas pelo menos posso ter a certeza de que nunca esquecerei aqueles caracóis negros, aqueles olhos da cor do mel e aquele branco e doce sorriso e o seu nome, Catherine.

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