14 de fev. de 2011

é uma carta de amor

E porque as cartas de amor não têm que falar, obrigatoriamente, de uma paixão, partilho convosco a minha...

Isabel Juncal Pires
Rua Cândido dos Reis
Barcelos


Barcelos, 14 de Fevereiro de 2011
Querida Teté,
Já passaram 9 meses e 21 dias e ainda não acredito que aconteceu mesmo! Estavas muito mal, disseram-me que o sofrimento tinha acabado, mas para mim a tortura acabara de começar. Não é que eu te visse muitas vezes, mas quando te visitava sentia-me melhor. Sabia que, apesar da idade avançada, das inúmeras memórias esquecidas e de todas aquelas perguntas repetitivas, sentias que eu estava ali a dar-te todo o meu carinho, a mimar-te. Havia amor (e sim, era um amor correspondido). Era a minha vez de cuidar de ti, tal como tu trataste de mim.
Nunca me esquecerei daquele dia "normal" (que até estava a correr bem), quando a minha mãe me ligou. Paralisei e o mundo paralisou comigo. Fiquei tão triste, desconsolada, preocupada. No fundo tinha a noção que não te restava muito tempo, mas nunca estamos preparados. Era a primeira vez que tal coisa acontecia (felizmente!). Não sabia o que fazer, estava desorientada. Não chorava, não queria estar no meio da confusão, mas também não queria estar sozinha. Sentia-me só, um vazio enchia a minha cabeça e o meu coração. Recordei-me daqueles dias em que íamos passear pela marginal da Póvoa ou de Esposende, quando a minha mãe te ia buscar àquilo que chamam "Lar de Idosos" e levava lanche; observavam-nos durante horas, enquanto eu e a minha irmã mais nova brincávamos nos baloiços. Adoravas! Sorrias! Emocionavas-te!
Sabias que a minha primeira lembrança é da casa do Porto? É verdade... Tinha uns dois anitos. O Lano estava sentado no cadeirão da sala na casa da Avó Aida e do Avô Pires e nós estávamos na cozinha. Tinhas preparado leite com chocolate e eu, felicíssima, bebia. Bons velhos tempos!
Gostava de poder falar contigo novamente. Há tantas coisas que ficaram por fazer, por dizer. Não há palavras que descrevam o teu beijo, o teu abraço, nem a falta que os teus mimos me fazem! Tenho saudades tuas, ponto final!
Não me queres vir visitar? (No início da carta escrevi a minha morada. Eu sei que a conheces, mas não quero que haja enganos!). Quando chegar a altura certa, tenho a certeza que me vais receber com todo o carinho e amor, cuidarás de mim como só uma bisavó sabe fazer.
Tomei consciência e sei que agora estás melhor, estás com o Lano. Nunca duvides do quão eu te adoro e lembra-te: estarás comigo sempre!
Com muito amor e saudade!
A tua bisneta,
Isabelinha

4 comentários:

silviafreitas. disse...

Muito bem pensado, quando a professora nos pediu uma carta surgiu logo a ideia de amor á cara metade; mas aqui ficou um exemplo das mil e uma forma de amar *
Muito bom :')
Continua.

Anônimo disse...

Isabel, considero esta carta muito, muito, muito especial; Compartilho contigo deste mesmo sentimento e acho que o exprimis-te de forma espectacular. Esta carta transmite-me uma nostalgia e uma saudade enorme. Obrigado por me fazeres relembrar isto e por fazeres relembrar os nossos bisavós.

David

Mariana disse...

todos temos um alguém que amamos mas que partiu, e é sempre bom relembrar e continuar a amar tudo o que se viveu em conjunto !
parabéns *-*

Anônimo disse...

é verdade! há inúmeras formas de amar e muitas vezes só nos lembramos de uma :/

faz-nos bem relembrar aqueles que já partiram, mas que estarão sempre no nosso coração :')

obrigada pelas vossas palavras*