23 de jun. de 2012

ainda sobre os exames nacionais

Texto retirado do blogue Cogumelo às Riscas, escrito pela Inês, aluna do 12º ano do curso de Ciências e Tecnologias.

«Como já disse, saí do exame a chorar. Toda a gente me consolou, a dizer que foi igual para todos, que todos fomos prejudicados, e só ao fim de algum tempo é que consegui explicar as minhas lágrimas. Não chorei propriamente porque me correu mal, mas chorei sim de frustração, de sentimento de injustiça. 
Queimei muitas pestanas, matei-me a estudar, resolvi tudo o que era exame, desde exames de 2000 a exames de 2011, li o livro de trás para a frente, escrevi folhas e folhas quadriculadas e consegui transformar o meu quarto num monte de aparas de borracha de tanto escrever e apagar, de passar tantas horas seguidas a estudar. Tudo isto porque sou uma aluna com grandes ambições, que deseja superar-se todos os dias e que queria, mais do que nunca, vingar a matemática no exame. E tinha todas as condições para isso, porque sabia a matéria toda e cada exercício que resolvia era como um exercício de 2+2. Até que as minhas ambições foram mandadas por água a baixo quando me deparei com o exame. Um exame por todos considerado difícil, puxado, "exame para 11", "exame que um aluno com média de 12 não consegue resolver". E isto porquê? Porque Portugal está em crise e o governo quer menos estudantes universitários. Então siga f**** os alunos do 12º para este ano não ingressarem tantos o ensino superior. Pois é. Mas mais uma vez, paga o justo pelo pecador. Em 2008, a U.E. quis aumentar o número de estudantes universitários e, como bem mandado que o Sr. Eng. Sócrates é, decidiu apostar nos facilitismos, para toda a gente tirar um curso e se tornarem engenheiros, tanto como ele. O problema é que desde dessa altura, criou-se um estereótipo no nosso país de que hoje em dia quem não tira um curso superior é um burro, porque hoje em dia toda a gente tira um curso. Pois é. Com média de 9,5 em algumas faculdades, qualquer burro vai para a universidade. E o problema é que os burros que entram, também saem. E são esses burros que muitas vezes passam à frente, no mercado de trabalho, àqueles que se mataram para entrar no mesmo curso, numa faculdade a sério, e se mataram para conseguirem a licenciatura. E depois claro, há maus profissionais, pois claro que há.
Pela situação do país, este ano tiveram que se tomar medidas para emendar todos os erros. Então optaram por dificultar mais ainda (sim, porque não considero o ensino secundário, principalmente o curso de ciências, assim tão fácil) a vida aos estudantes do secundário. E que tal começarem a fechar vagas nas universidades? E que tal deixarem de ser ridículos e uniformizarem as médias em todos o país (ou pelo menos impedir discrepâncias ridículas de médias entre faculdades diferentes)? É que assim, em vez de terem mil alunos a ingressar o ensino superior, só têm cem. Os cem que merecem, que se esforçam e que ambicionam realmente ir para a universidade estudar, e não aqueles que a encaram como a verdadeira vida loca. 
O que me assombra os pensamentos é a injustiça de milhares de alunos do 11º e do 12º ano este ano estarem a ser altamente prejudicados e a pagar pelos erros do governo. Os exames que realizamos definem o nosso futuro. E não nos digam que é falta de estudo, porque só eu sei aquilo que estudei. E só eu sei aquilo que sabia quando fui fazer o exame. E só eu sei o quanto me sinto frustrada e com medo de não seguir o meu sonho pela burrice e má gestão dos que me são superiores! E pior ainda, tenho noção que este sentimento é partilhado pelos milhares de jovens que frequentam o ensino secundário.
No fim disto tudo, pergunto-me: Será que vale a pena o esforço, o estudo, o trabalho? E só tiro uma conclusão disto tudo: actualmente, e num futuro bem próximo de mim, sei que mais que um bom currículo, mais que uma boa média, mais que uma boa faculdade... Uma boa cunha! E isto porque Portugal é um país sem educação. A filosofia dos portugueses é a do "Eu safei-me! Safa-te também. Se não safares, também quero que te f****!". E como os portugueses, também o governo este ano mandou os alunos do secundário safarem-se... Porque eles têm que se safar da crise, independentemente das medidas que têm que tomar. E a nossa obrigação, mais que dar tudo por tudo, estudar, ambicionar e merecer uma recompensa, é safar-nos.»

4 comentários:

Anônimo disse...

Incrível, melhor não podia ter sido dito !!!! :O

silviafreitas. disse...

Estão nos a f**** e nós a ver!

Cristina Fitas disse...

Nem digas nada Sisi, somos completamente f***** e não podemos fazer nada. E é verdade, hoje em dia sem cunhas não somos ninguém, principalmente para arranjar emprego. Quando for a nossa vez de entrar no mercado de trabalho... Até tenho medo só de pensar.

silviafreitas. disse...

Quando for a nossa vez vamos tirar a senha e aguardar na longa fila que nos espera...