6 de fev. de 2012

Necessidade de dizer


Por conveniência às vezes falo de coisas um pouco loucas. Permito-me até de repetir o mesmo várias vezes só para ter a certeza que os outros me ouviram. Por conveniência, já visitei lugares escuros e frios na tentativa de me lembrar do calor humano de que todos precisamos. Por conveniência desperdicei segundos e dias só a pensar em algo, aparentemente se importância.
Eis então que no meio de todo o secretismo, no meio de toda a balbúrdia, da sátira, da brincadeira os músculos da minha cara endurecem – ali, nessa altura, começo a pensar: que estou a fazer, que devo fazer, que faça sem que ao fazê-lo possa magoar alguém? O medo que tinha vai-se de repente, as mãos grandes e magras ficam rechonchudas, os olhos cansados do castanho habitual tornam-se verdes, as minhas características físicas então deixam de ser minhas e passam para outrem.
Por conveniência, fiquei ali estarrecido como num sepulcro, como num minério, como numa gruta. Por conveniência, deixei de repetir tudo o que dizia, deixei de me importar com o que os outros diziam, deixei de pensar nas dificuldades da minha vida. Por conveniência os valores da minha natureza encarnam num animal raro, quase extinto e arranquei qualquer crítica ou juízo. Por conveniência afastei-me do mundo por mais alguns segundos.

2 comentários:

Cristina Fitas disse...

Por conveniencia criaste uma escrita tu. Tens um estilo próprio.
Adorei

Anônimo disse...

Obrigado Cristina ;) muito obrigado sinceramente pelo teu apoio demonstrado :)Fico contente com que ao escrever as pessoas se possam relacionar com essa escrita. Obrigado pela tua assiduidade e pontualidade no que me diz respeito :)