30 de jan. de 2012

A Besta


A Besta devora, esventra, estripa, arranca, destrói, corrói. A Besta não se consola com nada nem com o vulto velho e podre da vida, nem com a árvore mais antiga, nem com mil mares de sangue, a Besta nada deixa, simplesmente engole, traga e consome.

A Besta, não pára, ninguém a pára e continua incansavelmente a comer a devorar todos quanto pode, tudo quanto pode e fica ali, no escuro moribundo da presença humana, na última gota de um suor nojento, na última fibra de uma carne esquecida, na última linha de um texto perdido. A Besta é inconsolável e dá-me pena que a Besta seja tão estúpida, tão serena, tão esbatida.

A Besta, quem será? Pergunto-me, quem é? Quem sobreviveu à sua ânsia de vida, quem percorreu o seu estômago e voltou? Quem disparou um dardo tão profundo que a esventrou? Quem a escavou ao seu mais profundo? Quem a descobriu?
A Besta a pouco e pouco, nos envenena.

4 comentários:

Cristina Fitas disse...

envenena até nos consumir por inteiro

Anônimo disse...

é verdade cristina :/

João Pedro disse...

Muito bom Pampillo!!

Anônimo disse...

obrigado jp ;):b