30 de out. de 2011

Poema do Futuro - António Gedeão

Eis aqui o poema que a nossa colega Mariana apresentou na cerimónia de Entrega dos Diplomas realizada na ESB.
Um poema maravilhoso só melhorado pela óptima prestação da pessoa que o declamou.

Poema do Futuro

Conscientemente escrevo e, consciente,
medito o meu destino.

No declive do tempo os anos correm,
deslizam como a água, até que um dia
um possível leitor pega num livro
e lê,
lê displicentemente,
por mero acaso, sem saber porquê.
Lê, e sorri.
Sorri da construção do verso que destoa
no seu diferente ouvido;
sorri dos termos que o poeta usou
onde os fungos do tempo deixaram cheiro a mofo;
e sorri, quase ri, do íntimo sentido,
do latejar antigo
daquele corpo imóvel, exumado
da vala do poema.

Na História Natural dos sentimentos
tudo se transformou.
O amor tem outras falas,
a dor outras arestas,
a esperança outros disfarces,
a raiva outros esgares.
Estendido sobre a página, exposto e descoberto,
exemplar curioso de um mundo ultrapassado,
é tudo quanto fica,
é tudo quanto resta
de um ser que entre outros seres
vagueou sobre a Terra.
António Gedeão

3 comentários:

Bárbara Silva disse...

- exactamente :)

Cristina Fitas disse...

Lindo poema e sendo a Mariana a declamá-lo fica ainda melhor.

Anônimo disse...

sem dúvida ;)