18 de set. de 2011

A vossa pena nos invalida

Ela disse: podem tirar-me a visão se desejarem, mas eu continuarei a ver mais longe e a sonhar para além das minhas pálpebras, então, eu vos respondo: ainda sinto.
Ele disse: podem silenciar-me a fala, deixar-me mudo, que apesar de a minha voz estar enterrada, vocês continuarão ouvi-la e eu vos digo: ainda sinto.
Ele disse: podem fazer os meus ouvidos explodir e eu, contudo, ouvirei cada letra, cada palavra, cada som. E eu vos afirmo: ainda sinto.
É bem possível que não possamos ver, nem falar, nem mesmo ouvir mas ainda sentimos cada olhar de pena, de desprezo talvez, cada "coitadinha é cega..." ou "pobre, é mudo" ou mesmo "meu Deus! É surdo..." E nos nos perguntamos: de que vos serve ter visão se não vêm como é devido? De que vos serve falar, se não dizem o que tem de ser dito? De que vos serve ouvir, se não ouvem nem metade daquilo que é preciso? Quem são os coitados afinal?
Tratemos as coisas pelo nome senhores, somos cegos, surdos ou mudos porque na verdade, é a vossa pena que nos invalida.