21 de jul. de 2011

Saudade





"Entalar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um estalo, um soco, um pontapé, doem. Dói bater com a cabeça numa esquina de uma mesa, dói morder a língua, dói cólica, carie e pedra no rim. Mas o que mais dói é a saudade.


Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma amiga de infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do/da pai/mãe que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gete mesmo quando se tinha mais audácia. Doem essas saudades todas.


Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam que ambos estavam próximos.


Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam onde cada um estava.


Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam que amanhã se veriam. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.


Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se constipando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa o casaco que você deu. Não saber se ela foi á consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido ás aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Marlboro, se ela continua preferindo Ice Tea, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.


Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe ocupem o pensamento, não saber como parar as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio, que nada preenche.


Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer."

4 comentários:

Catarina disse...

Estou sempre aqui metida, adoro o blog xD
É uma iniciativa bastante interessante, há cada post mais fantástico aqui :))
Continuem assim...

Natália Granja disse...

ahah, muito obrigada Catarina, ainda bem que gostas :D
Tanto eu como os meus colegas que publicam, agradecemos.*

Susana Pinto disse...

saudade é saudade, o que podemos fazer???

Anônimo disse...

saudade, saudade... que mais?