3 de mai. de 2011

Ary dos Santos - Poeta Castrado Não

Um grande poeta, um grande letrista do qual muitas vezes retiro inpiração: José Carlos Ary dos Santos. Aqui vos deixo ums dos meus mais preferidos poemas.



Serei tudo o que disserem


Por inveja ou negação:


Cabeçudo dromedário


Fogueira de exibição


Teorema corolário


Poema de mão em mão


Lãzudo publicitário


Malabarista cabrão.


Serei tudo o que disserem:


Poeta castrado não!



Os que entendem como eu


As linhas com que me escrevo


Reconhecem o que é meu


Em tudo quanto lhes devo:


Ternura como já disse


Sempre que faço um poema;


Saudade que se partisse


Me alagaria de pena;


E também uma alegria


Uma coragem serena


Em renegar poesia


Quando ela nos envenena



Os que entendem como eu


A força que tem um verso


Reconhecem o que é seu


Quando lhes mostro o reverso


Da fome já não se fala


-É tão vulgar que nos cansa –


Mas que dizer de uma bala


Num esqueleto de uma criança?



Do frio não reza a história


- A morte é branda e letal –


Mas que dizer da memória


De uma bomba de napalm?



E o resto que pode ser


O poema dia a dia?


-Um bisturi a crescer


Nas coxas de uma judia;


Um filho que vai nascer


Parido por asfixia!?


-Ah não me venham dizer


Que é fonética a poesia!



Serei tudo o que disserem


Por temor ou negação:


Demagogo mau profeta


Falso médico ladrão


Prostituta proxeneta


Espoleta televisão.


Serei tudo o que disserem:


Poeta castrado não!

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