12 de jan. de 2011

Tudo é foi - António Gedeão

Tudo é foi
Fecho os olhos por instantes.
Abro os olhos novamente.
Neste abrir e fechar de olhos
já todo o mundo é diferente.

Já outro mar me rodeia;
outros lábios o respiram;
outros aléns se tingiram
 de outro Sol que os incendeia.

Outras árvores se floriram;
outro vento as despenteia,
outras ondas invadiram
outros recantos de areia.

Momento, tempo esgotado,
fluidez sem transparência.
presença, espectro da ausência,
 cadáver desenterrado.

Combustão perene e fria
Corpo que a arder arrefece.
Incandescência sombria.
Tudo é foi. Nada acontece.

António Gedeão

Decidi partilhar um dos poemas que eu mais gosto. Cada vez que o leio, interpreto-o de uma forma diferente. Talvez seja porque "Neste abrir e fechar de olhos/ já todo o mundo é diferente."

2 comentários:

Anônimo disse...

Belíssimo poema!E grande poeta, António Gedeão.

Marta Senra disse...

Adorei o poema! É realmente belo.